As crianças como fonte de inspiração e aprendizado
Por Estefania Lima*
Durante o ano de 2016 fui uma das organizadoras da Feira de Trocas de Brinquedos, uma oportunidade ímpar de sair da frente do computador e vivenciar, na prática, o mundo das coisas simples, no qual acredito.
Diferente do que imaginei, que seria uma mediadora dessa experiência, fui aluna. Com as crianças aprendi sobre meus medos cristalizados, nos pais observei generosidade e temores e, durante todas as feiras, entendi que crianças são muito mais safas em interagir do que nós, adultos. Para nós, que já fomos moldados na lógica do valor monetário, da escassez e da vantagem, há sempre, mesmo que lá no fundo, uma tendência a nós protegermos, evitarmos o risco, queremos sempre fazer o “melhor negócio”. Nossa matemática é objetiva. Já para as crianças, quando recebem permissão dos pais, a troca é experiência, diversão e presença, mais vale o brincar, do que o obter.
Além disso, para mim, Feira de Trocas de Brinquedos é sinônimo de inclusão. Um evento livre, de portas abertas, que acolhe a todas as crianças. Como o valor material é irrelevante, o evento se torna um espaço rico, de escolhas complexas e surpreendentes. Mediei feiras em eventos de celebração ao dia internacional da síndrome de Down, em escolas públicas e na Avenida Paulista e em todos esses locais apenas uma coisa importa, a mágica do encontro de uma criança com outra criança. Em tempo de tanto consumismo, valor mesmo é termos o material (brinquedo) sendo usado apenas como ponte de conexão. O simples que é gigante.
Estefania Lima é formada em Comunicação Social pela UFPR, Mestre em Ciências Médicas pela FMUSP e pós-graduanda em Cuidados Integrativos pela UNIFESP, atuou durante dez com comunicação para causas sociais, em especial com questões de inclusão, nas ONGs Aliança Empreendedora (PR), Instituto Ronald McDonald (RJ), Movimento Down (RJ) e Instituto Alana (SP). Atualmente trabalha com projetos culturais na Seraphim Projetos e é autora do Fios e Ritos, iniciativa que fomenta a prática das artes manuais como veículo para o autocuidado, expressão e valorização da presença do indivíduo.