Feira de Troca de Brinquedos: Quando vai ser a próxima?

Feira de Troca de Brinquedos: Quando vai ser a próxima?

Por Mariana Machado de Sá*

“Quando vai ser a próxima?” é a pergunta que mais escutei ao me despedir de mães, pais, avós, tias e crianças ao finalizarmos qualquer uma das 11 edições da nossa já tradicional Feira de Troca de Brinquedo em Salvador que organizamos ao longo dos últimos seis anos.

Eu tinha duas crianças quando acolhi o chamado do Projeto Criança e Consumo e comecei a juntar os amigos para trazer o evento para minha cidade: meu filho caçula tinha dois anos, e minha filha mais velha, sete. Agora em 2018, na 12ª edição que já está sendo organizada, a única criança da família terá oito anos e a adolescente já veste a mesma camisa dos voluntários desde o ano passado.

Em 2012, o Movimento Infância Livre de Consumismo tinha acabado de nascer e eu sabia pouco sobre ir além do discurso do consumo reduzido, do desapego para doações e do recebimento de “heranças” dos primos e amigos mais velhos. Eu não fazia ideia de como crianças e adultos iam se comportar frente a necessidade de trocar brinquedos ao invés de compra-los.

Enquanto líamos os manuais e pensávamos em como abordar o público para que não passasse para as trocas os valores monetários, eu não sabia que estava prestes a viver um dos dias mais felizes de minha vida. Sim! A Feira de Troca é para mim, e para quem se permite apreciar, um dia feliz! E é por isso que adultos e crianças saem com este gostinho de quero mais!

Aprendemos que o brinquedo (novo ou velho, comprado ou trocado) não é o mais importante catalizador das brincadeiras e que o desejo pela troca é grande, porém maior ainda é o desejo pelo brincar, pelo suor, pelas gargalhadas, por perceber o corpo mover-se. Hoje sabemos que para a nossa Feira ser um sucesso, chova ou faça sol, o mais importante é o espaço para o brincar livre.

Sempre nos preocupamos muito com mediações que evitem a monetarização dos brinquedos, ou seja: para que os adultos não contaminem trocas informando o preço dos brinquedos. Nas Feiras de Troca, o brinquedo vale pelas brincadeiras que ele cria, e não pelo que ele custaria numa prateleira.

Percebemos, especialmente entre as crianças que cresceram frequentando as diversas edições da Feira, que a Troca é um chamariz e um detalhe muito importante, mas o brincar é o desejo principal. A mensagem que estamos aprendendo com as crianças é que o melhor brinquedo é o corpo, a linguagem, o outro, o espaço… a liberdade.

Meus filhos compreenderam, vivendo intensamente a preparação e o momento das Feiras, que todos têm brinquedos demais. Durante a Troca, chega a ser ofensiva a quantidade de brinquedos que as crianças de classe média têm. Fica claro que é uma quantidade tão grande que as crianças não se importam com cada brinquedo.

Elas trocam e destrocam, trocam e destrocam e, para o adulto, que sempre deu um valor muito grande às coisas materiais, fica explícito que para as crianças o que tem valor é o brincar. Um brinquedo trocado, mesmo sendo mais barato ou mais simples que o dela, acaba tendo uma importância e um valor muito maior exatamente por ser “novo”. Na minha casa, o efeito foi o aumento da qualidade do brincar associado a uma redução significativa de desejos por objetos “de brincar”, e consequentemente uma redução das compras de brinquedos.

Aqui em Salvador, a nossa escolha foi de aproveitar a “desculpa” da Feira para também ocupar espaços públicos, então das 11 edições, nove foram em parque e praças (apenas duas num museu), o que nos permite vivenciar uma experiência que aproxima crianças “criadas no porcelanato” da infância dos agora adultos das brincadeiras de rua, do barro, da grama e do cimento crespo das calçadas e entremeados. Desde a quinta edição, elegemos uma praça maravilhosa esquecida pelo tempo, que conta com uma amendoeira que permite aventuras alturas. Praça esta que foi sendo ocupada por outros movimentos e que foi sendo requalificada aos poucos.

Então, além de ler todo o material guia da Feira de Troca de Brinquedos elaborado pelo Criança e Consumo, tenho apenas uma dica: forme um grupo de gente amiga que tenha valores parecidos com o seu para que seja leve e tenha uma identidade. Gente junta é importante para pensar e para fazer. Seguindo as orientações é fácil fazer, mas para viver um dia feliz é preciso juntar gente!

Depois de tantas edições realizadas, uma embaixo de chuva torrencial, posso afirmar com segurança que organizar uma feira é como andar de bicicleta, no início a gente acha que nunca vai conseguir, que vai ser um fiasco, mas assim que acha o ponto de equilíbrio é só questão de tempo até sentirmos um prazer enorme com o ventinho na cara e com a alegria das crianças (e dos adultos também!).

*Mariana Sá é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc, membro da Rebrinc e organiza desde 2012 a Feira de Troca de Brinquedos em Salvado