Tudo o que se troca nas Feiras de Trocas de Brinquedos

Tudo o que se troca nas Feiras de Trocas de Brinquedos

Por Belisa Rotondi*

Organizei diversas Feiras de Trocas de Brinquedos pelo Instituto Alana dentro de eventos realizados em espaços públicos, e foram experiências de bastante aprendizado. Por serem Feiras abertas, as crianças que apareciam para as trocas não se conheciam – diferente do que acontece nas Feiras organizadas em escolas – e esta condição demandava certo tempo para que elas perdessem a timidez e se aproximassem umas das outras. Mas assim que esta aproximação acontecia, nós (organizadores e equipe de voluntários) presenciávamos histórias incríveis.

Algumas trocas específicas marcaram os eventos, como a vez em que um menino escolheu uma boneca de outra criança e foi fortemente incentivado pelo pai a propor esta troca. A oferta deu certo e ele foi embora radiante. Em outra Feira, uma criança passou horas tentando trocar um brinquedo, mas sempre se arrependia das escolhas, sentia insegurança, não queria deixar aquele objeto ir embora. Quando ela conseguiu fechar todo o ciclo e trocar o brinquedo por outro, foi um momento emocionante não só para ela, mas para a avó do menino e para toda a equipe – que estava acompanhando o processo e dando apoio desde o começo.

Sempre incentivamos o protagonismo da criança, e isso significava que ela, sozinha ou mediada por um voluntário, teria que propor a troca do brinquedo. Dessa maneira, presenciamos aprendizados, vimos crianças vivenciarem suas próprias vontades e abrirem espaço para outros tipos de troca que vão além dos brinquedos – vivências, brincadeiras, novas conexões e por aí vai. Tanto é que na maior parte dos casos, a troca não acabava ali, pois as crianças sentavam juntas para brincar com os novos brinquedos. Além daqueles momentos únicos e inesquecíveis, o que sempre me fascinou nas Feiras era o que acontecia logo após as trocas dos brinquedos: a interação entre os pequenos.

Outro momento importante destes eventos acontecia quando a equipe conversava com os pais e mães sobre o propósito da realização de Feira de Trocas de Brinquedos. A gente sentia que era um alívio para muitos adultos poder mostrar aos pequenos o valor de um consumo reduzido, uma troca em vez da compra de um novo objeto. Para as crianças, nada era um problema. Então, em alguns casos, o desafio era mostrar aos pais e mães que o preço do brinquedo não era algo comparável ao valor simbólico daquele objeto. Não se tratava de uma comparação de iguais. Já vimos crianças trocando mais de um carrinho por um único jogo de tabuleiro ou bolinhas de gude por algum brinquedo eletrônico. Por isso, no fim, a nossa expectativa era que a criança dialogasse até que ambas sentissem que a troca era justa.

Sempre foi um prazer e um grande aprendizado organizar Feiras de Trocas de Brinquedos e fazer parte de processos tão intensos e importantes como o desapego de algum objeto, o desafio de se abrir para o novo, a superação da timidez para interagir com outras crianças.

Para aqueles que vão organizar pela primeira vez uma Feira, uma dica: os materiais disponíveis no site que tratam sobre as etapas anteriores à Feira são importantes para preparar pais, mães e crianças para este momento. E, no geral, fique tranquilo(a): as trocas fluem de maneira orgânica e mostra aos adultos a importância de repensarmos o consumismo em todas as áreas das nossas vidas.

*Belisa Rotondi é analista de redes sociais no Instituto Alana, formada em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Educomunicação pela Universidade de São Paulo.